Oh meu amiguinho!A falar é que a gente se entende.

“Olá bom dia”
Esforçadamente a minha lingua ensonada, articula-se para formar umas sílabas compreensíveis ao ouvido humano.
“Bom dia! O que vai ser ?”
Mmmmmmm, tento me lembrar-me do objectivo da visita.
“Queria um café, e um garrafa de água se faz favor.”
“Sim senhor, é para já”
Algo aliviado pela avidez com que toma o meu pedido, o sujeito desaparece atrás do balcão, fundindo-se no cheiro a café que a esta hora já inundava o bar. Veste uma camisa branca de origem, mas amarelada com o tempo. O tecido já gasto, denota a unicidade da peça, que diariamente lhe cobre a pele branquiçada cultivada pela falta de sol.
Ajeita a máquina do café, manipulando-a como se um velho amor se tratasse. Mecanicamente percorre o processo, absorto na sequencialidade hipnotizante que se manifesta no frenezim do dia a dia. Contudo, mantém a boa disposição, como se ela fosse representativa do seu brio profissional.
“Ora aqui está, o seu cafézinho e garrafinha de água!”
“Obrigado”,
respondo eu, sacudido pela prontidão com que despacha a fila inexistente que tarda em acumular-se atrás de mim. Embrulhado na complexidade do desafio, coloco com uma mão, de forma aconchegante o pacote de acúcar e colher ao rebordo da chávena. Na outra a garrafa de água., bem essencial para aquelas noites mais carregadas. Antes de me acomodar numa cadeira convidativa banhada pelo sol, o meu amigo pergunta:
“Quer um copinho para a água?”
E de repente aprecebi que o meu amigo, falava uma língua estranha.... A língua dos inhos e das inhas.
Este queriduchar ou afofurar da língua portuguesa, encontra-se presente em pelo menos uma pessoa por nós conhecida.
A grande descoberta, reside na fantástica particularização que efectuei ou verificar que esta estranha forma de fala é uma característica universal entre todos os empregados de mesa/café.
Este cunho peculiar e deveras irritante, deve constar de algum código deontológico ou curso de formação para todos os futuros aspirantes ao cargo de empregados de café.
Durante este curso, estes jovens mancebos devem ser testados sob condições duras e bastante adversas. São expostos a condições climatéricas extremas, sendo obrigados a desenvolver rápidos raciocínios léxicos, tipo palavra puxa palavra.

Empregado de Carreira - Muito Sr. Aspirante! Vamos lá fazer se você é mesmo burro ou se apenas faz de conta. Diga-me 7 utensílios de cozinha.”
Aspirante - “ uh, uhm...Uma colher, uma chávena....”
Empregado de Carreira - “Sr. Aspirante, você é um atrasado mental. Encher 20 vezes.... Já! Quantas vezes não lhe disse que o diminutivo do substantivo é mandatório se quiser triunfar nesta profissão.”

Outro exercício utilizado é rápida troca de substantivos pelo seu diminuitivo, sendo que os jovens aspirantes são privados de sono durante 48hrs.
Empregado de Carreira – Devolva rapidamente o diminutivo da seguinte palavra: “Copo!”
Aspirante – “Copinho”
Empregado de Carreira – Pano
Aspirante – “Paninho”
Empregado de Carreira – “Galão”
Aspirante – “Galãozinho”

Tá mal! Tá Errado!

Como podem verificar do acima exposto, consta que existem certas palavras cuja construção não permite a referida diminuição. O dito empregado quando as profere, sabe bem nas suas profundezas, que está ir contra os ensinamentos na União Universal dos Empregados. Fala-se nos bastidores, que estas palavras mais ásperas estão suspensos a aguardar inquérito.
Um bom exemplo disto é a palavra Galão, afamada bebida quente que junta o café com o leite, e servido num copinho de vidro. . .
É claramente um aumentativo em terra de pequeno, um largar do sabonete em balneário alheio.
Por exemplo Prego no Pão, sem ser muito agressivo já faz tremer o empregado menos experiente. Podia ser um prego no pãozinho, como o já famoso pãozinho de leite.Portanto, da próxima vez que frequentarem um estabelecimento do género, vulgo pastelaria ou café, estejam atentos aos sinais. A pulseirinha de oiro, a unhaca do dedo mindinho comprida e afiada. A grande cultura futebolística e o saudoso cheirinho nauseabundo a suor.