segunda-feira, agosto 22, 2005

Silêncio

Olho repetidamente para ele, como se as batidas do coração dependessem da sua frequência.
As horas passadas ao telefone perderam-se no silêncio dos teus gestos.
O pequeno envelope, um sinal de esperança, deixou de piscar.
Tento descortinar alguma anomalia que o justifique.
Já me justificaste, eu sei. Mas mesmo assim, a vontade não se deveria sobrepor a tudo isso? Pensei que a minha presença se tinha tornado indispensável. Indispensável não, mas viciante.
Tens o poder do silêncio.
Para ti, é um reflexo da confusão que se encontra a tua vida, para mim é o oxigénio que escasseia.
Para ti, é um bálsamo, para mim, veneno.
É amante, é pecador. Nem as memórias escapam à sua sedução. O último suspiro vigilante chega ao sabor da tua voz, de forma como te ris, como me olhas, como te moves…
O despertar esse é perverso, quase cruel onde a realidade demora assentar para um novo dia sem ti…
O silêncio, o teu, deixou de ter voz. E com ele, a forma como me ouvias.
Esboçava sonhos com os teus contornos. Sem os muros do costume, eras tu que os preenchias, e eu deixava.
Agora, os contornos estão cada vez mais ténues, fazes questão em os apagar.
Sinto-me excluído…Quero desistir. Peço-te que não me deixes.